Publicado no boletim Junho da ASPI – UFF
O QUE OS OLHOS NÃO VÊEM
Antoine de Saint Exupéry, autor de “O Pequeno Príncipe” e um dos pioneiros da aviação, lutou na Guerra Civil Espanhola e viria a morrer pilotando um avião na guerra contra o Nazismo. Quando lutava e pilotava na Guerra Civil Espanhola, foi feito prisioneiro e seria executado no dia seguinte. Na prisão resolveu fumar o último cigarro antes de ser executado. Não tinha fósforos e era de noite, chamou o carcereiro e pediu para lhe acender o cigarro, quando este acendeu o fósforo, sorriu para o carcereiro que retribuiu o sorriso. Nisto perguntou-lhe se tinha filhos, respondeu tenho dois, Saint Exupery também disse que tinha dois mas jamais os tornaria a ver, pois seria fuzilado no dia seguinte. Sem dizer uma palavra, o carcereiro abriu a cela, conduziu-o para fora da cidade pelas ruas tortuosas e voltou para seu lugar. Minha vida foi salva por um sorriso do coração, falou o autor do Pequeno Príncipe, aliás é sua a frase que colocou na boca da raposa que disse ao Pequeno Príncipe “ o essencial é invisível aos olhos”
Os olhos veem muito pouco, temos uma faixa pequena do espectro que conseguimos ver, não vemos no infravermelho nem no ultravioleta, há animais que conseguem ver nestes campos. Temos também limites em ver o microscópio e o longínquo são inacessíveis aos nossos sentidos. Além disso, nossa atenção é fundamental para vermos as coisas. É comum quando dirigimos automóvel falarmos, por exemplo, esta motocicleta surgiu do nada. É verdade, nosso campo visual não consegue observar todos os detalhes que acontecem.
Ver é muito diferente de olhar. Ver depende muito do objetivo que temos ao olhar para qualquer coisa e também do nosso grau de conhecimento intelectual. Se levarmos um grupo de pessoas para um ponto onde avistem uma grande área, como; O Pão de Açucar, e pedirmos para cada um relatar o que observou, teremos relatórios muito diferentes, uns observarão a beleza do entorno da Baía da Guanabara, outros a floresta tropical, outros ainda os barcos, as rochas, a silhueta de Niterói etc. Pois o que desperta nossa atenção está relacionado com nosso modo de vida, o tipo de cultura, a formação acadêmica, o lugar de onde viemos etc.
Já tive oportunidade de me deparar com exemplos de pessoas que visitaram determinado local e tiveram opiniões completamente distintas sobre o que observaram: dois amigos meus visitaram Praga, na República Checa no mesmo ano mas em dias diferentes. A primeira, advogada disse que lá nada havia de interessante, já um Coronel do Corpo de Bombeiros e ambientalista, falou que foi o lugar mais bonito que já viu.
Também é muito comum, e acredito que já aconteceu a todos nós, simpatizarmos ou antepatizarmos por uma ou mais pessoas que vemos pela primeira vez. Até tornamos a culpa ao anjo da guarda que nada tem com isso. Dizemos meu anjo da guarda não gostou dela ou dele. Em verdade os olhos não veem o essencial porem os olhos da alma são mais sinceros e podem observar as virtudes morais ou ausência delas em determinada criatura
Que nos faz gostar dela ou não
Se analisarmos bem, somos quase cegos porque não vemos o que é essencial para nossas vidas. Não vemos Deus, através de tudo o que Ele criou. Não observamos as grandes obras morais que nos foram legadas por nossos antepassados fazendo que sejamos hoje os seres que somos, com religião, amor à família e ao próximo. Não vemos que nossos antepassados, pais, avós, filhos e outros, continuam nos amando e nos enviando bênçãos da dimensão que hoje se encontram. Apenas não os vemos, mas os sentimos perto de nós quando em silêncio pensamos neles e em Deus.